Gaslighting: a manipulação invisível que distorce a realidade e destrói a autoestima

Você já duvidou das suas próprias memórias, sentimentos ou da sua sanidade após uma conversa? Pode ser que você esteja vivendo gaslighting — um tipo de abuso psicológico silencioso, mas extremamente destrutivo, que mina a autoestima e desestabiliza emocionalmente suas vítimas.
O que é gaslighting?
O termo gaslighting tem origem na peça de teatro Gas Light (1938), de Patrick Hamilton, que ganhou fama mundial com o filme À Meia-Luz (1944), estrelado por Ingrid Bergman. Na trama, um marido manipulador faz com que sua esposa duvide da própria sanidade ao distorcer a realidade — inclusive alterando a iluminação da casa e negando o fato.
Esse comportamento deu nome a uma das formas mais perigosas de manipulação emocional: fazer a vítima duvidar da própria percepção de realidade.
Como funciona
Gaslighting é um processo contínuo e sutil de manipulação psicológica, no qual uma pessoa faz com que a outra questione sua memória, lucidez, emoções e até sua identidade. Com o tempo, a vítima passa a depender emocionalmente do abusador, tornando-se vulnerável e fragilizada.
A psicóloga Stephanie Sarkis define:
“Gaslighting é fazer a vítima acreditar que todos à sua volta estão mentindo e que apenas o abusador detém a verdade.”
Segundo a especialista Melissa Spino, “essa forma de controle é eficaz porque é contínua e camuflada — quem sofre demora a perceber o que está acontecendo”.
Frases típicas de um manipulador emocional
O gaslighter usa frases que invalidam a realidade da vítima. Veja exemplos comuns:
- “Você está exagerando.”
- “Isso nunca aconteceu.”
- “Está tudo na sua cabeça.”
- “Você é muito sensível.”
- “Ninguém mais pensa assim.”
- “Você precisa de ajuda.”
Essas frases não são apenas críticas — são armas psicológicas usadas para criar confusão e culpa.
7 sinais de que você pode estar sendo vítima
Fique atento aos seguintes sintomas:
- Você se pergunta se está “sensível demais”.
- Sente confusão ou dúvida constante sobre seus sentimentos.
- Pede desculpas excessivamente, mesmo sem saber o motivo.
- Justifica o comportamento do outro o tempo todo.
- Evita conversas com medo de reações negativas.
- Sente que perdeu a capacidade de tomar decisões.
- Diminui o valor de seus próprios sentimentos e conquistas.
Importante: esses sintomas podem lembrar ansiedade ou depressão, mas no gaslighting há uma figura ativa reforçando a insegurança da vítima.
Em quais relações o gaslighting acontece?
Esse tipo de abuso pode surgir em:
- Relacionamentos amorosos
- Relações familiares (pais, irmãos, sogros)
- Amizades tóxicas
- Ambientes profissionais (chefes ou colegas)
O gaslighting geralmente ocorre em relações com desequilíbrio de poder, onde a vítima tem laços afetivos, dependência emocional ou econômica.
Como sair de um ciclo?
Romper com esse padrão é desafiador, mas possível. Veja os passos:
- Reconheça o abuso: nomear o problema é o início da libertação.
- Registre fatos: anote conversas, sentimentos, incoerências.
- Observe os padrões: repetições e distorções são sinais fortes.
- Visualize a sua liberdade: imagine-se longe da manipulação.
- Valide seus sentimentos: você não está exagerando.
- Permita-se sair: preservar sua saúde mental é prioridade.
- Busque apoio: fale com pessoas de confiança.
- Coloque seus sentimentos no centro: o que você sente importa.
- Aceite seus limites: você não pode mudar o outro.
- Seja gentil consigo mesmo: sair de um ciclo abusivo leva tempo e coragem.
Por que é importante falar sobre gaslighting?
Gaslighting não é um simples desentendimento ou diferença de opinião. É um padrão tóxico e deliberado que enfraquece a percepção de quem sofre. E embora possa afetar qualquer pessoa, mulheres são frequentemente as mais atingidas, por questões culturais e de gênero.
A cura começa quando conseguimos enxergar a verdade dentro de nós — mesmo que alguém insista em apagá-la.
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