Ele tem medo. Ela, pressa.

Ele tem medo. Ela, pressa.
Ela estava exausta.
Não do convívio — mas da não-convivência. Cansada de ter que guiá-lo, carregá-lo pela mão como se fosse um filho pequeno.
Ele se abria apenas em manifestações de desejo. Mas ela não queria mais ser desejada como se fosse uma roupa na vitrine. Não queria ser só objeto de desejo. Ela queria ser alma tocada, não apenas corpo saciado.
Queria ser o motivo do sorriso dele, não apenas a moldura do olhar.
Talvez ela fosse tudo isso. Mas ele tinha medo.
Medo do novo. Medo de abrir mão da rotina, das poucas conquistas que carregava como troféus. Medo de ser o vilão. Medo de ser egoísta. Medo de ser apontado, julgado. Era um medo paralisante, aquele que aprisiona a alma e impede qualquer passo em direção à própria felicidade.
Talvez fosse trauma. Talvez culpa. Talvez pura falta de inteligência emocional. Talvez tudo isso. Ou talvez… nada.
Nem ele sabe de onde vem essa inércia, esse bloqueio, essa incapacidade de simplesmente agir. Talvez ele apenas se espelhe demais nos próprios pais.
Ela, por tudo o que já viveu, sabe:
a felicidade é urgência.
É conquista à unha, à força, à dor.
Para ele, a felicidade é outra coisa.
É suportar mais um dia.
Comente