Trabalhando integral na obra
Eu entrei na Igreja Evangélica Neopentecostal com a promessa de que minha filha se curaria da depressão. Na época, minha vida profissional ia muito bem: eu trabalhava nos bastidores de shows com pessoas influentes e era gestora de uma revista de cultura muito respeitada na internet, com um bom salário.
Um dia, meu pastor disse que eu precisava largar meu trabalho secular, pois ele estaria dificultando minha vida com Deus. Ele afirmou que, se eu quisesse realmente um milagre na minha casa, com a cura da minha filha, deveria utilizar meus dons profissionais exclusivamente na igreja, oferecendo esse trabalho de forma voluntária.
Eu estava divorciada, tinha três filhos e o sustento da casa dependia de mim. Mas é claro que coloquei a saúde da minha filha como prioridade, então larguei tudo e passei a ser voluntária na igreja local. Servi por seis meses sem receber nada, até ser chamada, por um “milagre”, para ser contratada (CLT) na sede da igreja como produtora de rádio. Além disso, trabalhei como locutora e técnica de áudio, mas não fui remunerada por essas atividades. O salário que me ofereceram na época era R$ 1.000,00 abaixo do mínimo permitido pela minha categoria, mas aceitei porque estava seis meses sem remuneração e com contas atrasadas. Eu acreditava que trabalhando integral na obra, e ainda mais como CLT, agradaria a Deus.
Integral na obra
Em conclusão, esse é o modus operandi: deixam as pessoas vulneráveis e depois usam e abusam delas, pagando um salário de fome porque é a única oportunidade que a pessoa encontrará. Apesar de ser formada, fui proibida pelos pastores de fazer diversos cursos que eu desejava. Eles não querem que você se atualize ou seja competitivo no mercado de trabalho; querem que você fique obsoleto, preso à igreja.
Um dia, percebi que estava com medo de sair da rádio, mesmo já sofrendo de burnout, e não conseguir outro emprego. Eu ouvi da gestora da igreja; se saísse de lá, passaria fome com meus filhos. Eu era uma profissional desde antes de entrar na igreja, mas me levaram a duvidar da minha capacidade. Demorei dois anos para conseguir voltar a trabalhar na minha área e tomar coragem para entrar com um processo trabalhista contra a igreja.
Escrevi um livro sobre minha experiência, e o resto da minha história você já conhece.
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