Guarda o que restou depois do fim – sobre um relacionamento abusivo

– Há algo errado acontecendo…- ela tenta, pela milésima vez

– O problema não é você, sou eu. – ele responde, finalizando o assunto.

Sim, sempre há algo errado, quando pensar no relacionamento não dá mais a sensação de borboletas no estômago, mas vertigem. Há homens que não são capazes de terminar um relacionamento. Eles preferem seguir uma estratégia para que as mulheres se sintam culpadas pelo fim da relação.

Eles também deixam para elas a responsabilidade do “trabalho sujo”, ou seja, de colocar um ponto final na crise, seja concordando com seu comportamento, seja com o término.

Então, devagar, o Anakin Skywalker vai se transformando em Darth Vader.

Acabou, quem não vê? Tudo se desfaz um dia

Agora acabou o interesse.

Antes passavam o dia conversando, ele acompanhava interessado o trabalho dela e até as redes sociais. Elogiava suas fotos e suas postagens, as sérias e as coisas mais ridículas.

O código não verbal do relacionamento abusivo

Agora o silêncio toma conta da situação. O desinteresse chegou a tal ponto que ele não quer nem saber se ela está bem. Os assuntos, quando ele decide falar, sempre giram em torno dele, de seus interesses e seus problemas. Mesmo quando na mesma casa, ainda que ela ficasse nua, ele não demonstrava interesse. E qualquer insistência por atenção, por participação ou ajuda, o fazia explodir: jogando a louça, batendo porta, gritando.

Assim como fez do sexo moeda de troca.
A intimidade se transformou em prêmio a ser conquistado. Ela deveria se comportar e ser boa menina para merecer seu interesse.
Os carinhos se foram junto com as palavras ternas que ele dizia. Às vezes tratavam-se como colegas de trabalho.

Um dia, ele elogiou todas as mulheres que estavam ao redor: Mãe, madrasta, cunhada, menos ela. Ele passou a enfatizar seus defeitos, a ser super sincero quanto a suas falhas.

“Minha ex embarangou, por isso terminamos”

Ele tornou-se ausente.

Antes faziam tudo juntos. Até as pequenas e simples coisas. Agora, passa uma semana distante, até mais. Mas a culpa é da nova rotina.

Ela passou a duvidar de si mesma, autoestima completamente abalada. Ele disse que era impressão dela, que ele não estava estranho, distante. Ele só precisava de um tempo para pensar na vida.

“Se eu não estiver bem comigo, não estarei bem com ninguém”.
E sumiu. Viajou, divertiu-se e fez sozinho coisas que nunca havia feito com ela. E deixou para ela o ponto final de um relacionamento abusivo.

“O estranho é ter paz, quando o certo era vertigem…”