Hoje não, Covid!

covid

“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro…”
(Belchior)

Foi graças ao dentista que o Covid-19 chegou até nós. Tão zelosos e cuidadosos, há um ano nos preservando e em isolamento social. Quem poderia sonhar que uma consulta quase se transformaria em tragédia?

A princípio parecia uma sinusite, uma dor de garganta, depois a dor no corpo e por fim o diagnóstico: Positivo.

Ele já estava de volta ao trabalho em outra cidade quando soube e nos orientou a fazer o teste. E então o chão saiu debaixo dos nossos pés. A Liv, asmática, era meu maior medo.

O Nelson ficou fraco, não conseguia se comunicar. Silêncio. Horas que pareciam dias. A impotência me gerou uma terrível crise de ansiedade. Muitas vezes chorei prostrada na cama. Outras, me joguei de cabeça no trabalho para ocupar a mente. Corpo e alma doíam absurdamente. Nenhuma notícia por dias. De repente:

– Vou ser internado, 60% dos pulmões comprometidos.

E foi tudo. Enquanto eu lutava com a falta de notícias, ele lutava pela vida. Fui tomada pelo medo e a ansiedade.

De alguma forma eu sabia que ele estava quase me deixando.

Nelson contou que não conseguia respirar, puxava o ar e o ar não vinha. Só conseguiu chamar a enfermeira e… apagou.

Naquele momento eu sabia. De algum jeito eu sabia que ele quase partiu. E senti medo de perdê-lo, medo dele não saber o quanto o amo. Medo de não viver nossa listinha de planos. Medo de nunca mais sentir seu abraço.

Ouvir sua voz, ainda que fraca do outro lado, me fortaleceu. Mesmo de longe, mesmo sem toque, mesmo na incapacidade. Eu e a Liv vencemos o covid. Nelson venceu o covid. Agora eu sabia que estávamos apenas começando.

 

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