A resposta automática “Estou bem… e você?”

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Eu estou bem… e você? Estamos em uma pandemia mundial. São tempos difíceis. Covid-19 ainda não tem vacina, então tem gente morrendo todos os dias. Tem saúde mental pedindo socorro.

Quando positivamos para Covid-19, comecei a fazer um diário sobre os sintomas. Minha intenção era esclarecer, falar a respeito de coisas que só quem está dentro sente.

Ao acordar pela manhã do dia 1 pós-diagnóstico, me dei conta que precisava colocar uma encomenda no correio, mas não seria possível. E também, nos dias subsequentes, pelo menos, nada que eu tocasse seria seguro para as pessoas.

Meu segundo choque de realidade foi perceber que eu precisava trabalhar e só tinha sono. A cabeça pesa e o corpo dói de verdade. A roupa incomoda. Deitar dói, sentar dói, tudo dói. Assim como respirar.

Precisava comprar ração para os cachorros e gatos, remédios que ficaram faltando e preparar algo para comer – não que tivesse fome, afinal nem gosto das coisas sentia, mas para proteger o estômago dos aproximados 10 comprimidos ao dia era preciso comer.

Com o Covid, você tem que se isolar das pessoas totalmente e, entretanto, é quando você mais precisa do contato humano. São as ironias da vida.

A tarefa árdua foi ligar nos lugares e explicar que aqui em casa estamos com Covid, combinar o pagamento com pix e a entrega com distanciamento. Caso a caso. Porém, é ruim falar muito. Cansa.

Eu confesso que esperava maior dificuldade no trato com as empresas, mas o que recebemos foi carinho, compreensão e boa vontade. Que acolhimento bom e necessário!

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O remédio deixado no portão

 

Não toque em nada

Engraçado como a gente passa a pensar em coisas que são automáticas em nossas vidas. Por exemplo, colocar o lixo na rua. Tudo o que tocamos fica contaminado. Derramei cloro no saco ao colocá-lo na lixeira, horas antes da coleta passar.

Acordei no dia 2, às 8h como se estivesse curada. Expectativa: “Vou limpar a casa”. Realidade: Em quinze minutos estava jogada na cama, sem energia alguma. Ainda assim conseguimos dar só um tratinho na casa para mantê-la habitável.

Nesse ínterim descobrimos que tomar os comprimidos com iogurte faz o estômago doer menos. E logo depois do coquetel, o sono é arrebatador, capotamos até 14h. Esquecemos de almoçar, fome não tem, sabor não tem. Lembramos de comer desde que sintamos fraqueza.

Qualquer coisa que a gente coma, tem que imaginar o gosto. Sim, trabalho mental, de olhar o prato, imaginar o sabor e o aroma e aí sim, comer. Dor no corpo e tremedeira o dia todo, me senti um pinscher (mas não raivosa).

No dia 3, se eu fosse uma princesa seria a Bela Adormecida. Meu cérebro trabalhando em modo de economia de energia. Não envia estímulos de fome, de sede, olfato ou paladar ao corpo. Meu sistema operacional ficou bugado, mas meu antivírus rodando a contento. Eu estou bem… e você?

Estou bem, com Covid-19

No sexto dia descobri que o sono insistente se chama Síndrome de Fadiga Crônica (SFC). É uma condição que piora com atividade física e ou mental, mas não melhora com o repouso. E não passa no décimo quinto dia.

Neste dia escrevi dois textos e precisei dormir. Estendi roupa no varal e quase chorei de tanta dor no corpo.

Diversos estudos realizados em instituições de saúde diferentes pelo mundo apontam a presença de fadiga como um sintoma preponderante de Covid-19. Tanto na fase aguda quanto na fase de convalescência.

Meus pés pareciam queimar o tempo todo, precisava deixa-los para cima boa parte do dia. Os ‘pés de covid’ consistem em uma inflamação que faz com que os pés e os dedos do paciente permaneçam inchados. Entretanto, segundo os médicos não há motivo para ficar preocupado.

A Liv tomou diariamente os remédios para evitar a asma e desta forma seguimos. Um dia de cada vez.

No oitavo dia, muito sono, crise de enxaqueca muito forte, dor nos braços semelhante a tendinite. Embora a dor, passei o dia mais disposta. Só era ruim para digitar… justamente o que eu mais faço na vida.

Neste dia as mensagens de algumas pessoas me afetaram. A maioria mandava apoio e palavras boas, mas sempre tem aquela minoria barulhenta, dividida entre me comparar com conhecidos que “pioraram e morreram” e outros que me questionavam como eu não havia melhorado ainda.

O Covid se manifesta em cada pessoa de um jeito diferente. É injusto comparar. Neste dia desisti de escrever e me fechei.

Quando me perguntavam -exceto amigos íntimos – como eu estava, respondia apenas “Bem, e você?”.

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