O Recomeço – Voe por todo o mar e volte aqui

o recomeço voe por todo o mar e volte aqui

Trilha sonora do recomeço: O vento – Jota Quest

“Levou os meus sentidos todos pra você
Morando nos meus sonhos e na minha memória
Pedi ao vento pra trazer você pra mim”

Aquele havia sido um término doloroso e traumático para ambos. Sem forças para lutar, eles desistiram um do outro. Era uma história tão bonita, daquelas de filme, cheia de romance, paisagens e sincronicidade.

Todo começo de relacionamento parece igual, mas eles já ultrapassavam os quatorze anos de encaixe perfeito. Eles podiam ser verdadeiramente eles mesmos juntos, sem esconder nada.

Conheceram o melhor e também o pior lado um do outro. Ele quis morrer. Ela quase desistiu. Feito tsunami que vem e destrói tudo, deixando escombros por quilômetros, eles foram demolidos, esmagados e esvaziados.

Então, depois de tantos anos, a pandemia chegou e com ela, a mudança de vida para ambos. Alinhamento dos planetas, a mudança brusca da maré, ou os anjos disfarçados de nerds da tecnologia agindo. Nunca saberemos.

O fato é que daquela árvore chamada amor, ainda restavam as ressequidas raízes. E bastou um reencontro online, inesperado, através da tela preta de letras verdes, para que Nelson e Sarah esquecessem tudo o que os separou.

Em resumo, um casal que se conheceu com coração ferido, frustrado e amargo. Duas pessoas que se fizeram tão amigas e que um dia descobriram que estavam se amando… Um casal cujas dores eram tão semelhantes que juntos alcançaram cura. Amor de novela, história de filme. Acreditar no amor recíproco, eterno e inabalável. Dois que são um. Two of a kind. Um amor tão simples e puro a ponto de não enxergar a maldade do ser humano.

O recomeço

As plantas secas só precisam de água, as pessoas secas só precisam de amor, daqueles verdadeiros, intensos e capazes de sobreviver até mesmo as tragédias.

E depois de uma conversa que durou dias, o quebra-cabeças emocional de ambos começou a ganhar forma. E ele voou por todo o mar, uma viagem que durou um dia inteiro, cheia de conexões e protocolos de segurança, afinal estamos em meio a uma pandemia mundial. Foi exaustivo e desgastante, mas ele precisava olhar para os olhos dela e conseguir se enxergar dentro deles, dentro dela. Ela precisava daquele abraço-lar que só ele tinha. Ela precisava de uma casa para se aconchegar.

Finalmente partiram para o reencontro, o tudo ou nada, uma última tentativa de acreditar que amor eterno existe. Foi com medo mesmo, com aquela insegurança quase infantil, mas aliado a certeza de quem nunca mentiu.

As horas passaram devagar, o corpo sentia um misto de frio e calor, as mãos trêmulas mal conseguiam digitar. O dia que pareceu durar uma eternidade e a risada nervosa denunciava que Sarah estava aflita.

De repente eles estavam ali, frente a frente. As máscaras só possibilitavam ver os olhos. E por instantes o silêncio os permitiu ler suas almas. A solidão, a saudade, a cura que um significava para o outro. Eles estavam se reconectando, se complementando de novo, entrelaçando os dedos. Em silêncio tudo foi dito. Então era o recomeço.

E volte aqui, pro meu peito

Tantos anos sem aquele abraço, sem rirem juntos das piadas bobas, sem suas loucuras gostosas, sem cantar as músicas que foram sua trilha sonora, sem aquele encaixe perfeito que ambos possuíam. Logo eles, que se conheciam de um jeito mais preciso que qualquer aplicativo de localização. Sabiam de cor cada detalhe daquele mapa que adoravam explorar.

Ele chorou ao ter que partir. Mas ela fez de seu colo, o porto seguro do Nelson. Ele podia voar, porque teria para onde voltar. Ele tinha de novo um lugar.

Algumas coisas nunca mudam.

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